Parte 3 – Sete meses, duas exposições presenciais e 63 encontros on-line depois: O que eu aprendi na residência Casa Tato 5

Leia a Parte 1 dessas minhas reflexões clicando aqui e a Parte 2 clicando aqui.

Assemblage apreesentada na segunda exposição da residência
“São Jorge enfrentando os dragões”. Assemblage apresentada na segunda exposição da residência. Objetos achados montados com poliester em reverso de tela, 30 cm x 30 cm, 2021.

Continuando a falar do que aprendi após sete meses, duas expoisições presenciais e 63 encontros on-line, em mais de 130 horas de Casa Tato 5, o programa de residência virtual da Galeria Tato, de São Paulo (você pode ter uma visão geral dos participantes da residência clicando aqui).

Lição Número 3: os curadores são um mal-bem necessário.

Faz um tempo, participei no Instituto Tomie Ohtake, por dois semestres, do curso de um dos principais pintores brasileiros. A certa altura ele pareceu estar bem aborrecido com curadores e sua intrusão permanente e impiedosa na produção dos artistas, querendo ditar o que eles fazem, porque fazem e como fazem. Querendo fazer por eles. Na ocasião, por falta de experiência em lidar com curadores, não entendi bem o motivo das queixas. Eram justas? Eram injustas? Depois da casa Tato 5 pude avaliar melhor. Aí vão minhas conclusões. So far.

Curadores estão para artistas como a paisagem está para os caminhantes. Você pode gostar dela. Você pode não gostar. Mas ela está lá e não vai sair. Curadores são parte do ecossistema da arte. E estão alguns andares acima de nós, criadores. Portanto, seja amigo deles. Não brigue com a paisagem.

Curadores moldam, em muito, o mundo da arte. Por trás de cada exposição, de cada galeria, de cada quadro adquirido. Por trás dos estilos de criação de Fulano ou de Fulana. Por trás do artista “do momento” está um, ou mais, curadores (“Curador, devo pintar assim? Isso vende?”). O que antes foi um papel de colecionadores e galeristas (vem à mente Ambroise Vollard, Sergei Shchukin e  Daniel-Henry Kahnweiler, que ajudaram a estabelecer o impressionismo e o cubismo) hoje é feito por curadores.

Curadores não são racionais e lógicos em suas opiniões e muitas vezes opinam às cegas sobre nossos trabalhos. Leve-os a sério mas não ache que está sendo julgado no Tribunal da Arte. O que é o caminho certo e preciso para um determinado curador, é o exato oposto para outro. Na Casa Tato 5 tivemos a oportunidade de ter nosso trabalho avaliado por vários curadores de primeira linha. Comigo, aconteceu várias vezes de as recomendações feitas por um deles serem negadas e contestadas por outro. Alguns curadores avaliam julgando os artistas. Outros julgam os trabalhos apresentandos per si.Alguns tem um raciocínio lógico, linear. Outros são líricos, confusos, quase diáfanos nas suas avaliações. A forma de apresentar o trabalho no portfólio sugerida por um, podia ser demolida por outra. Resumo: ouça a opinião deles, mesmo quando dolorosa. Mas fique sempre com o seu próprio julgamento.

Curadores dizem ao público e aos compradores o que é bom, o que deve ser apreciado e colecionado. O fim do Modernismo (morte lenta que se arrastou da Primeira Guerra até poudo depois da Segunda Guerra) significou o fim das escolas artísticas (i.e., codificação estética da arte em “linhas de produção”). Sem as grandes escolas (ou “movimentos”: cubismo, expressionismo abstrato etc.), cada artista passou a fazer o que queria. Cada artista passou a ser uma escola de arte. Milhares de artistas, milhares de estilos. Um problemão. “Como eu, colecionador, vou decidir o que é bom O que comprar? Alguém precisa me dizer! Socorro!” Foi aí que a figura do curador-quase-artista-DJ-da-obra-dos-outros apareceu e dominou a cena. Resumidamente.

O que aprendi com os curadores com quem convivemos na Casa Tato 5. Muitas coisas. Entre elas: a) a importância de ter um portfólio enxuto; b) que montar o meu portfólio ajudou-me a entender melhor as coisas que estou produzindo, a ver uma evolução formal e discursiva no meu trabalho; c) a ver a diferença entre o que eu “quis” e o que eu de fato “fiz” no meu trabalho; d) ver a minha produção a partir de diferentes olhos treinados.

É isso.

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