Como vender/viver num mercado de arte muito pequeno? Sete meses, duas exposições presenciais e 63 encontros on-line depois: O que eu aprendi com a Casa Tato 5 (Parte 2)

Segunda exposição da Casa Tato 5: ao fundo, "As regras do contágio", 2022
Segunda exposição da Casa Tato 5: ao fundo, “As regras do contágio”, 2022

Vamos lá. Continuando a falar do que aprendi após sete meses, duas expoisições presenciais e 63 encontros on-line, em mais de 130 horas de Csaa Tato 5, o programa de residência virtual da Galeria Tato, de São Paulo (você pode ter uma visão geral dos participantes clicando aqui).

Lição Número 2: o mercado de arte no Brasil é ridiculamente pequeno e fechado. Busque criar alternativas de divulgação pessoal e de venda de sua produção.

Sabe aquela estória do artista que é representado por uma galeria, recebe dela todos os meses uma grana para pagar as contas e poder criar sossegado, e que tem uma carteira de clientes fiéis que compram a sua arte regularmente? E que, de quebra, recebe críticas regulares nos meios de comunicação, faz exposições periódicas e vive feliz para sempre? Pois bem esta é uma lenda. Poucos, pouquíssimos artistas (1%? 0,1%?) brasileiros, tem esse status. Por que?

Por algumas razões bem precisas:

  • O mercado de arte nacional é muuuuito pequeno. O país tem poucos colecionadores de arte na sua elite, que são os tradicionais grandes compradores pelo mundo afora (junto com museus e empresas). Os ricos nacionais, em sua maioria imensa, preferem comprar jetskis, colecionar amantes, cavalos e cantores sertanejos. É sério: uma conta rápida do colega de residência Federico Guerreros mostrou que existem, se não me engano, uns 5 mil colecionadores para serem disputados por centenas de milhares de artistas brasileiros. Sem contar os de fora, que vem beliscar aqui.
  • As galerias, mesmo quando são engajadas e bem-intencionadas (porque ouvimos estórias de galerias que dão drible nos artistas que “representa”), em geral são financeiramente fracas e vivem, elas mesmas, tentando sobreviver. Além disso, ressaltou um dos colecionadores que ouvimos, “os artistas deviam cobrar mais das suas galerias”, que, na opinião dele, “fazem muito pouco pelos criadores”.
  • As verbas públicas para a arte (fonte de financiamento importante pelo mundo afora) são poucas e muito disputadas. Um artista em começo de carreira terá poucas chances ainda de consegui-las quando tem que disputar os centavos com monstros estabeleceidos como o grande #Nuno Ramos, por exemplo.
  • Os artistas não são remunerados pelo mercado secundário (revenda de seus trabalhos), apesar do que determina a lei. Por exemplo: um quadro que a Adriana Varejão vendeu originalmente por 10 mil reais ( e fiocu com 50%, pois os outros 50% foram, corretamnte, para a galeria que a representa) e foi revendido por 1 milhão de reais cinco anos depois, não pinga sequer centavos na mão dela. Esse é um fenômeno mundial (a União Europeia tenta remediar), muito agravado no último país grande que acabou com a escravidão.

Chega? Quer mais motivos?Porque a lsita segue.

Bem, e o que é possível fazer pra tentar minimizar esse triste quadro? Se fosse fácil assim resolver essa situação, nós não estaríamos falando a respeito dela agora. Mas não é. Uma Elite que tem Eike, Veio da Havan, aquele dono de farmácias imbecil que faz fotos com a mão no peito, e outros bichos, não vai se encher de Rockefellers, Guggenheims e donos da LVHR ( François Pinault) de um século pro outro. Não. Vou falar aqui, então, do que eu mesmo estou fazendo (ou tentando fazer). Uma contribuição modesta aos colegas artistas. Um caminho que a Casa Tato 5 ajudou a reforçar na minha cabeça como sendo uma saída (possível). Vamos lá.

  • Não desista de ser representado por galeria. Mas não jogue todas as suas fichas nisso. Pode ser que esse sonho nunca se realize, ou (pior?) se realize e você se torne um artista desiludido. Eu não estou jogando todas as minhas fichas nessa aposta. Corra atrás de outros caminhos. Por exemplo:
  • Aprendi com os professores da Art Students League of New York, onde fiz algumas oficinas em 2019 (todos eles grandes artistas, respeitados em seus campos de atuação) que é preciso (mesmo nos EUA, onde o mercado é grande e variado) fazer VÁRIAS coisas diferentes ao memso tempo para tentar encher a cesta: a) venda direta online da produção artística; b) dar aulas coletivas e individuais; c) bater o bumbo nas redes sociais para promover-se e, provavelmente, vender; d) ter uma faixa de preços bem variada (os preços de Dominique Medici partem de 50 dólares (um exercício a óleo que eu comprei) até os milhares de dólares. Os de Max Ginsburg, artista realista consagrado, partem de centenas de dólares (tenho três pequenos trabalhos dele) para centenas de milhares de dólares); e) produza séries, impressos, múltiplos, mais fáceis de vender; f) fiz fundraising (vaquinha), produzi três livros e os pus à venda; e, por fim, g) abra a sua própria galeria em ação conjunta com outros artistas amigos (estou avançando nisso com os amigos artistas Marli Araujo e Shell).
  • Seja MUITO profissional. Por exemplo: vc já fez um inventário de TUDO o que produziu e que pode ser vendido? Vc tem uma lista com obra, dimensões, técnicas, preços etc.? Quantos itens você tem para vender? Tirando alguns trabalhos que fiz no início de minha formaçã, em 2018, tudo o que faço está à venda. Tenho para vender 1200 múlitplos (livros, posters, fotografias, xilogravuras) e mais 500 itens individuais que produzi desde março de 2016 (óleo, acrílica, aquarela, esculturas, desenhos, iPad, digitais, assemblage, videos etc).
  • Cobre preços muito abaixo do que você acha que sua produção vale/merece.Você acha que vale R$ 10 mil? Comece cobrando R$ 1 mil, talvez. Se funcionar, aumente aos poucos. É melhor que descer de 10 pra 1.

E você? O que está fazendo para tentar viver como artista? Como está se virando?

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