Sete (sete? hum…) + uma coisas que todo artista deve saber/fazer: O que eu aprendi na residência Casa Tato 5 – Parte 4 (FINAL)
Leia a Parte 1 dessas minhas reflexões clicando aqui.
Leia a Parte 2 clicando aqui.
E a Parte 3 clicando aqui.

Assemblage de objetos achados unidos por poliester. Exposta na primeira mostra da residência.
Encerro neste post meus comentários sobre a Casa Tato 5, o programa de residência virtual da Galeria Tato, de São Paulo (você pode ter uma visão geral dos participantes da residência clicando aqui), do qual participei entre 2021 e 2022. Vou listar oito coisas que, creio, são a base para uma boa experiência artística, um bom fazer artístico (e talvez você até consiga viver de arte).
Coisa número 1
Estar sempre atualizado com o que rola no mundo da arte. Ler livros de artistas ou sobre artistas contemporâneos (acabei de ler um, maravilhoso, do Nuno Ramos, Fooquedeu). Ir a exposições. SEMPRE tem alguma ao alcance, não importa onde você vive (acabei de visitar uma muito legal, no Paço das Artes, perto da Galeria Tato). Fuçar na internet. Gosto, para entender o que rola lá fora, de artforum e The Art Newspaper.
Coisa número 2
(re)Visitar a história da arte. Às vezes, a maior novidade do momento aconteceu faz 200 anos. As gravuras de Francisco Goya “Los Desastres de la Guerra”, por exemplo, são insuperáveis na técnica, na temática, na abordagem. Ajudam a entender o mundo em que vivemos e ensinam muito sobre a arte e seu fazer.
Coisa número 3
Aprender as técnicas clássicas para poder se aventurar no experimentalismo contemporâneo. Alguns trabalhos que vejo me deixam com a triste impressão de que aquele colega só não fez algo diferente por que não sabia, tecnicamente, como fazer. Alguns, inclusive, se orgulham da própria ignorância (essa conquista da modernidade): “eu NUNCA aprendi a desenhar!”. Por que fulano fez aquele guarda-chuvas com o cabo torto, amassado, que já ultrapassado por Duchamp faz bem 100 anos? Por que fulana botou aquele bastão de neon enfiado na areia, ao lado de um monte de palha? Posso estar ridiculameante enganado e haver uma grande e coerente explicação, mas me parece que a razão mais profunda, a explicação daquela obra, está em não saber pintar, ou desenhar, ou esculpir… Picasso, antes de ser Picasso, quando era só Pablito, dominou o mundo tradicional. E só assim pôde demoli-lo. Outros, como Lucian Freud, demoliram a arte tradicional por dentro, em pleno domínio da ancestral técnica do retrato a óleo (claro que é difícil fazer bons retratos a óleo!).
Coisa número 4
Pertencer a um coletivo de artistas, presencial e/ou virtual. Não é fácil, não é barato (será que não?). Nem existem tantos assim (eu mesmo estou me esforçando para criar um). Mas a polinização mútua que tivemos na Casa Tato 5 foi muito boa.
Coisa número 5
Buscar outras formas de gerar vendas para além da galeria tradicional. Eu já abordei esse tema em outro post, mas não poderia deixar de repisá-lo: se você focar seus esforços apenas em conseguir a galeria que lhe represente (quano elas mesmas estão se debatendo para não afundar) pode se tornar um eterno frustrado. Tem várias outras formas de tentar fazer dinheiro através da arte (e nem falo nos meios digitais). Vá aí num dos meus posts passados dessa série; eu cito várias, inclusive uma de que tenho gostado bastante.
Coisa número 6
Produza muito, produza todos os dias. Eu sei de colegas que fazem um – ou menos de um – trabalho por mês. Falam do “sofrimento” de criar, da “dor da criação”, de fazer uma tela… Balela. Não fique esperando a tal “inspiração” porque ela (para mim, ao menos) é apenas uma desculpa para postergar o trabalho (“ai, o artista, aquele ser sofredor, sensivel…”). Picasso só virou Picasso porque produziu (catalogadas) dezenas de milhares obras ao longo de seus mais de 80 anos de carreira (começou aos 10 e terminou aos 92). Eu, que estou muuuuito longe de ser um Picasso, embora não seja também um vira-latas, não faço menos de 100-150 trabalhos por ano, entre pinturas, desenhos, fotografias, vídeos etc. Meu lema? Eu penso como aquele filme dos 1980, com Kevin Costner: faça (muito) que eles (alguns bons trabalhos) virão.
Coisa número 7
É mais fácil ser criativo do que ser original. As chances de eu, você, criarmos a obra que dará início a uma nova escola estética é ridiculamente pequena. Afinal, quantos Cubismos, Impressonismos, Dadaismos, existiram? Ser original me parece bem difícil. Mas isso não quer dizer que você não possa ser criativo. E ser criativo já é um primeiro grande passo. O que é “ser criativo”? Não me pergunte, você sabe….
Coisa a mais, final
A vida segue; siga produzindo. Com todos os horrores que temos vivido desde 2019 (Bolsonaro, Covid-19, recessão, inflação… que falta? Calvície?), é possível que o remédio seja criar muito e intensamente. Já disseram que a arte tem poder curativo (existe até a arte-terapia, né?). Pois então. Meu trabalho mais recente finalizado (trabalho sempre em doi sou três ao mesmo tempo) é esse aí embaixo (para o qual um amigo da residência Casa Tato 5, o grande artista Federico Guerreros, me sugeriu um desdobramento fantástico, que já comecei a pôr em prática).

Assemblage de objetos achados, 2022.
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